No limiar deste próximo ano, quero lhe desejar muito Silêncio diante das armadilhas do Tempo, diante das suas várias ameaças das quais temos pouca ou nenhuma consciência, embora vivamos nessa realidade inúmeras vezes: refiro-me à enfermidade do Tempo. Em hebraico, doença, enfermidade é usada uma palavra extraordinária: mahala. Mahala quer significar doença, mas também carrega um sentido de nos situarmos num círculo repetitivo, sem saída. Assim, adoecer é repetir e repetir infinitamente as nossas trajetórias, mesmo as trajetórias de dor pois não vemos saída, estamos encaixotados num círculo-labirinto do qual tentamos, sem sucesso, sair já que, sem o sabermos, estamos apenas repetindo o mesmo jeito de estar no mundo,  a mesma estrada,  a monotonia que perdura sem tréguas. Daí, então,  um psicanalista inglês,  chamado Bion, trouxe à tona o significado oculto de doença em inglês,  como na palavra disease, isto é, o não-fácil, o difícil que se instala na vida impetuosamente.

Claro, você sabe, sou familiar às doenças, conheço essa história desde longos períodos, todavia, a despeito desse poder quase avassalador, a doença, seja do corpo, do espírito, a doença de repetirmos nossos velhos erros de teor compulsivo e que furta a fé de que seremos um dia livres dessas danosas repetições infindáveis,  todavia elas encontram um Poder que as dilui, dissolve e salva a nossa vida que parece não ter outra cor senão a cor da decepção com a gente mesmo...assim, entre sua vontade de acertar, fazer novas coisas e o ato em si consumado, existe um maravilhoso espaço de Silêncio, pois aí tudo para, tudo é uma epifania de quietude, nada aí é forçado,  o passo repetitivo não foi dado, há uma suspensão do tempo nesse instante e que desvela a Eternidade...aí, nesse ponto, o círculo das repetições é cortado por uma reta Tangente de Amor e que verticaliza seu coração,  abrigando-lhe para longe desse labirinto temporal...aí sua vida se decide, aí se marcam as rupturas com o velho, com o doente, com a reprise,  pois agora somos novos, erguidos, alçados e, portanto, nesse Silêncio quieto e Espaçoso, reencontramos nosso verdadeiro lugar,  o da liberdade. 

Por isso, antes se qualquer coisa, antes de abraçar, beijar, por favor beije muito quem você ama, antes de vir a força das coisas enfermas em você,  Silêncio...Silêncio...silencie...agora vá e aja como livre na imagem verdadeira de quem você é...se encontre...o Novo chega no Silêncio... Autor: Eduardo Nunes Teixeira